Medo da morte: como falar desse tema tabu com a família

O medo da morte é tão enraizado em nossa sociedade, que o assunto chega a ser um tabu para mais de 73% dos brasileiros. A pesquisa foi realizada pela Studio Ideias, em 2018, e chegou a outras conclusões interessantes: segundo 79% dos entrevistados, não existe uma hora certa de ter essa conversa com alguém. Já pouco mais de 30% dizem não saber como abordar o tema, se precisarem falar sobre ele. É muita gente, concorda?

E toda essa dificuldade traz consequências: com o medo da morte, fugimos da conversa. A partir disso, deixamos de nos preparar ao momento e, sem o planejamento, resta aos familiares decidirem, sozinhos, em cima da hora. No entanto, isso não é fácil, pois eles estarão no pior momento para pensarem de forma racional.

Bem, a única forma de fazer diferente é tentar se preparar melhor, para que, assim, a família enfrente a situação com mais tranquilidade. Veja nossas dicas!

Por que temos medo da morte?

O medo da morte é importante, pois cria em nós um alerta de proteção. Ele é instintivo e é responsável por nossa sobrevivência desde o início da nossa existência. É ele que gera dois tipos de reações: ataque e fuga, ambas necessárias para lidarmos com ameaças.

No entanto, quando os medos nos impedem de enfrentar uma situação fundamental — como no exemplo da pesquisa que trouxemos —, isso não costuma ser positivo. A morte chegará em algum momento, por isso, ultrapassar essa dificuldade é a atitude mais saudável.

Como abordar o tema com a família?

O desconhecido costuma aterrorizar, não é mesmo? Sendo assim, uma boa estratégia é tirar o tabu do assunto, ao introduzi-lo na convivência familiar. Algumas dicas para facilitar o debate são as seguintes!

Entenda os próprios fantasmas

O primeiro passo é você ter tranquilidade para falar sobre o assunto. Sendo assim, pergunte-se: “tenho algum fantasma em relação a isso? Se sim, o que ele me diz?”. Afinal, para trabalhar o tema com a família, você, primeiro, precisa entender as suas ressalvas.

É importante ser sincero consigo mesmo e aceitar que, talvez, até você tenha o costume de evitá-lo. Identifique o motivo do medo e busque formas de combatê-lo, pois é bem provável que você precise ajudar sua família em relação a isso. Leia sobre o assunto, busque um refúgio em algo que você goste de fazer ou inicie um processo terapêutico, se considerar melhor.

Assista a filmes sobre o assunto

Que tal iniciar a conversa de forma suave? Uma boa ideia é trazer uma reflexão sobre o tema e inseri-lo em certos contextos do dia a dia. Filmes são um ótimo pretexto, já que, além de abordarem a questão, deixam todos imersos a uma narrativa instigante. Os voltados ao público infantil tendem a tratar o tema de um jeito despretensioso, mas com uma mensagem bonita.

Em O Rei Leão, por exemplo, a morte é apresentada natural e necessária ao ciclo da vida. Ainda que o pequeno leão Simba sinta falta de Mufasa, ao longo da trama, ele entende que uma parte de seu pai ainda vive dentro dele. 

Outro filme interessante é o Divertidamente. Ele não aborda diretamente a morte, porém ensina algo necessário: todos os nossos sentimentos são importantes e precisam ser aceitos — inclusive a raiva e a tristeza. 

Proponha uma roda de leitura

Leituras também são de grande ajuda e, assim como os filmes citados, as versões infantis trazem bonitas metáforas e mensagens. Aliás, falando nisso, tratar da morte com as crianças é positivo, viu? Isso faz com que cresçam sabendo aceitar melhor as despedidas.

Uma ideia é pegar um livro mais curto e lê-lo em voz alta, com todos presentes. Assim, cada um pode, depois, comentar sobre como se sentiu. Certamente, alguém trará uma percepção diferente e enriquecerá ainda mais o diálogo.

Uma dica: “Para Onde Vamos Quando Desaparecemos”, de Isabel Minhós. Por meio de frases e respostas, ela apresenta o assunto com a leveza merecida. Já quem prefere algo menos infantil pode gostar de “A morte é Um Dia Que Vale A Pena Viver”, de Ana Claudia Quintana Arantes. A autora chegou a dar palestra no TED e o vídeo, rapidamente, viralizou. 

Mostre que esse é um processo natural

É fato: o fim de tudo sempre chega. A infância um dia acaba. A adolescência também. Contratos de trabalho, uma hora, chegam ao fim. O sol nasce e se põe. Dias, semanas, meses e anos estão sempre finalizando e reiniciando ciclos. Alegrias e tristezas, da mesma forma, não duram eternamente. A única certeza de tudo é a finitude. O mesmo acontece com nossos corpos.

Ter dificuldade de lidar com o fim não fará com que a morte deixe de existir. Por isso, a melhor atitude é aceitar o processo como um ciclo necessário, dentro de um universo em que ainda não temos todas as respostas.

Entenda os receios de cada um

Bem, lá no começo sugerimos a você lidar com os próprios receios. Passar por etapa é importante para que, agora, você consiga escutar os medos dos familiares. Não quer dizer que você precisa encontrar respostas para as dúvidas de todos. No entanto, abordar o tema e tentar enxergá-lo a partir de várias perspectivas será um exercício interessante e ajudará todo mundo a lidar melhor com esse medo.

Aproveite os bons momentos

Sabe um sentimento comum de muitas pessoas que estão no leito da morte? O arrependimento de não terem aproveitado mais os bons momentos. Então, para conseguir aceitar bem o fim do ciclo, sem tanto medo da morte, tenha momentos proveitosos com todo mundo. Marque almoços, proponha pequenas reuniões, planeje viagens. 

Quando alguém falece, são essas boas lembranças que ficam, não é mesmo? Essa é, inclusive, uma forma de deixar memórias agradáveis suas para a família.

Discuta sobre o futuro dos filhos

Encarar a realidade é essencial. Fale com os filhos sobre os trâmites do seu falecimento. Como você gostaria que fizessem? Também, conversem a respeito de coisas práticas do dia a dia, de quando você não estiver mais presente. Cedo ou tarde, eles terão que lidar com isso. Então, melhor que seja agora, com a sua ajuda, não acha?

Enfim, ter medo da morte, como você viu, faz parte dos nossos instintos. É natural o desejo de preservação. Ao mesmo tempo, sabemos que a morte é algo de que ninguém consegue fugir. Por isso, nossas sugestões são para encará-la com toda a naturalidade possível.

O que você achou do artigo? Viu como se preparar seus filhos para um futuro é muito mais fácil agora? Então, se você ainda não sabe o que é um planejamento sucessório, entenda agora como fazer o seu!

Disponível em: Como lidar com o medo da morte? https://apsiquiatra.com.br/medo-da-morte/ Acesso em: 09 de Fevereiro de 2021.

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